quarta-feira, 20 de junho de 2012

Frustração


Frustração, um passo para a Criatividade

Ela dói e marca. Por isso, muitas vezes, tendemos a evitar que nossos filhos passem por ela, mas isso é um erro. A frustração é a maneira mais fácil da criança conhecer a realidade e reunir forças para mudá-la, se quiser.
-Chora que a mamãe compra!
-Bate o pé, a mamãe volta atrás com o não e diz sim!
-Quero, porque quero usar uma determinada roupa ou sapato, o cabelo de determinada forma, mesmo que não esteja adequado ao clima, local, horário... e lá vai a mãe ceder em função do desejo do filho.
São essas e outras situações corriqueiras do dia a dia e as atitudes dos pais que vão ajudar a formar a personalidade da criança.
Você já descobriu que, por maior que seja a sua vontade, é impossível dar tudo a seu filho? Talvez seja incômoda a reação da criança quando lhe negam alguma coisa: ela faz bico, chora, berra, esperneia. Isto ocorre porque, ao negar-lhe algo, você o deixa frustrado. Se ele não começar a trabalhar com esse sentimento desde cedo, como vai se virar naquelas situações em que a vida lhe diz não?
A frustração é uma vivência como outra qualquer, da qual a criança tira elementos para seu amadurecimento.
Vivendo-se o fracasso, aprende-se a vencê-lo.
A criança superprotegida tem menos força para enfrentar a vida, pois impedida de viver as frustrações é enfraquecida. Diante das derrotas, tende pôr a culpa nos outros e raramente tenta outra vez. Não toleram ver outras crianças sendo centro das atenções. Demoram a perceber que não existem apenas elas no mundo, e estão na maioria das vezes procurando papéis de herói ou anti-herói para se destacar.
A frustração deve ser vivida, admitida e extravasada, para que surja, depois de dentro da própria pessoa a capacidade de lutar pelo que quer, com mais força, aperfeiçoando-se como ser humano, sendo melhor para chegar onde quiser.
Numa sociedade altamente competitiva como a nossa, em que muita gente quer estar num lugar mais alto, é preciso estar preparado para perder e não desanimar.
É muito bom querer ser sempre primeiro, mas quando não se chegou lá, é fundamental encarar isso de frente, e não fingir que não tem importância apenas para não vivenciar a dor da derrota. Dessa dor nasce a criatividade.
Desmistificar a frustração é de fundamental importância para nossas vidas.
Na parte pedagógica, a criança pode apresentar alguma dificuldade, pois o limite apresentado por uma folha de papel pode ser um fator que vai impedi-la de se satisfazer com um desenho ou sua escrita. Ela terá pouca capacidade de persistir no processo de aprendizagem, não saberá valorizar muito bem as suas conquistas porque sempre teve tudo muito fácil.
Com sorte, essa criança pode até atravessar os primeiros ciclos de sua vida socorrendo-se com seus pais a cada perda e encontrá-los sempre prontos a lhe dar tudo, não permitindo que ela encare de frente  a temida frustração. E depois na adolescência, na vida adulta, quem irá socorrê-la?
Para saber se estão agindo bem, pai e mãe devem se perguntar como estão lidando com suas próprias frustrações. O que mais se vê é a transferência de expectativa, como os pais que sofreram com problemas financeiros, pessoais, ou tiveram limites muito rígidos e agem na direção oposta com seus filhos, para que não tenham o mesmo sofrimento.
Todos concordam que a proteção, o atendimento, o carinho são necessários e que só uma criança que se sente amada e segura pode elaborar uma perda, uma frustração em favor de seu crescimento interior.
O segredo está “no ponto”, na atenção. Educar é quase como fazer um doce em que os ingredientes são simples, mas tem a medida certa. A mão da cozinheira é fundamental.
Marisa Mazzi Almeida - Psicóloga

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