Frustração, um passo para a Criatividade
Ela
dói e marca. Por isso, muitas vezes, tendemos a evitar que nossos filhos passem
por ela, mas isso é um erro. A frustração é a maneira mais fácil da criança
conhecer a realidade e reunir forças para mudá-la, se quiser.
-Chora
que a mamãe compra!
-Bate
o pé, a mamãe volta atrás com o não e diz sim!
-Quero,
porque quero usar uma determinada roupa ou sapato, o cabelo de determinada
forma, mesmo que não esteja adequado ao clima, local, horário... e lá vai a mãe
ceder em função do desejo do filho.
São
essas e outras situações corriqueiras do dia a dia e as atitudes dos pais que
vão ajudar a formar a personalidade da criança.
Você
já descobriu que, por maior que seja a sua vontade, é impossível dar tudo a seu
filho? Talvez seja incômoda a reação da criança quando lhe negam alguma coisa:
ela faz bico, chora, berra, esperneia. Isto ocorre porque, ao negar-lhe algo,
você o deixa frustrado. Se ele não começar a trabalhar com esse sentimento
desde cedo, como vai se virar naquelas situações em que a vida lhe diz não?
A
frustração é uma vivência como outra qualquer, da qual a criança tira elementos
para seu amadurecimento.
Vivendo-se
o fracasso, aprende-se a vencê-lo.
A
criança superprotegida tem menos força para enfrentar a vida, pois impedida de
viver as frustrações é enfraquecida. Diante das derrotas, tende pôr a culpa nos
outros e raramente tenta outra vez. Não toleram ver outras crianças sendo
centro das atenções. Demoram a perceber que não existem apenas elas no mundo, e
estão na maioria das vezes procurando papéis de herói ou anti-herói para se
destacar.
A
frustração deve ser vivida, admitida e extravasada, para que surja, depois de
dentro da própria pessoa a capacidade de lutar pelo que quer, com mais força,
aperfeiçoando-se como ser humano, sendo melhor para chegar onde quiser.
Numa
sociedade altamente competitiva como a nossa, em que muita gente quer estar num
lugar mais alto, é preciso estar preparado para perder e não desanimar.
É
muito bom querer ser sempre primeiro, mas quando não se chegou lá, é
fundamental encarar isso de frente, e não fingir que não tem importância apenas
para não vivenciar a dor da derrota. Dessa dor nasce a criatividade.
Desmistificar
a frustração é de fundamental importância para nossas vidas.
Na
parte pedagógica, a criança pode apresentar alguma dificuldade, pois o limite
apresentado por uma folha de papel pode ser um fator que vai impedi-la de se
satisfazer com um desenho ou sua escrita. Ela terá pouca capacidade de
persistir no processo de aprendizagem, não saberá valorizar muito bem as suas
conquistas porque sempre teve tudo muito fácil.
Com
sorte, essa criança pode até atravessar os primeiros ciclos de sua vida
socorrendo-se com seus pais a cada perda e encontrá-los sempre prontos a lhe
dar tudo, não permitindo que ela encare de frente a temida frustração. E depois na
adolescência, na vida adulta, quem irá socorrê-la?
Para
saber se estão agindo bem, pai e mãe devem se perguntar como estão lidando com
suas próprias frustrações. O que mais se vê é a transferência de expectativa,
como os pais que sofreram com problemas financeiros, pessoais, ou tiveram
limites muito rígidos e agem na direção oposta com seus filhos, para que não
tenham o mesmo sofrimento.
Todos
concordam que a proteção, o atendimento, o carinho são necessários e que só uma
criança que se sente amada e segura pode elaborar uma perda, uma frustração em
favor de seu crescimento interior.
O
segredo está “no ponto”, na atenção. Educar é quase como fazer um doce em que
os ingredientes são simples, mas tem a medida certa. A mão da cozinheira é
fundamental.
Marisa Mazzi Almeida - Psicóloga