terça-feira, 15 de outubro de 2013

A INFÂNCIA E A EDUCAÇÃO INFANTIL


O período que se estende da gestação até os seis anos de idade é considerado o mais importante para o desenvolvimento da criança, pois é nessa fase que a criança estabelecerá suas conexões com o mundo. Antunes (2006, p. 9) declara que a criança "precisa desenvolver-se plenamente nos aspectos físico, psicológico, intelectual e social, por meio de uma educação bem estruturada que atenda as necessidades da criança", porém essa relevância não foi sempre considerada ou mesmo conhecida, pois durante muito tempo a criança não era reconhecida como um ser que precisava de cuidados e educação específicos para a sua faixa etária e para cada fase do seu desenvolvimento.
Até o período da Idade Média a criança era vista como um adulto em miniatura, um ser que precisava ser treinado para suas atividades quando alcançasse a idade mínima para tal. Até mesmo suas roupas eram semelhantes às roupas dos adultos, e como destaca  Ariès (1981, p.32), "a diferenciação das vestes objetivava apenas manter visíveis os degraus da hierarquia social". A presença da criança nas obras de arte, ao serem retratados nos momentos familiares, junto a outros adultos, brincando ou presente nas cenas da crucificação, segundo Ariès (1981, p.21) sugere duas ideias:
Primeiro a de que, na vida cotidiana as crianças estavam misturadas com os adultos, e toda reunião para o trabalho, o passeio ou o jogo reunia crianças e adultos; segundo, a ideia de que os pintores gostavam especialmente de representar a criança por sua graça ou por seu pitoresco.
Dessa forma, expondo a criança como um ser que não possuía características e valores próprios que fossem dignos de respeito e por isso eram tratadas como uma subclasse que antecedia tornar-se humano, como um animal irracional que a partir do momento que tivesse suas faculdades físicas amadurecidas seria considerado como um indivíduo racional.
Ao considerarem-se os estudos relativos à infância, Ariès (1981) afirma que apenas no século XIII começaram a surgir representações da criança que se aproximam do sentimento moderno; a criança anjo representada pelo menino que era educado para ajudar na missa, o Menino Jesus ou Nossa Senhora menina que já trazia algum sentimento específico pela infância e a criança nua representando a pureza e alma que era entregue a cada pequena e nova criatura. Pois até o século XII a ausência da criança nas representações artísticas denuncia que, a criança tinha tarefas e obrigações que lhe preparavam para a vida adulta desde muito cedo, e dessa forma não havia preocupação nem espaço para as fases específicas da infância, pois a infância não passava de mera transição para se modelar ao que se esperava do futuro adulto. Na mesma obra, Ariès (1981, p. 99) ressalta que o fato de não existir um sentimento pela infância não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem.
Não era atribuído nenhum significado específico a infância, e ainda as crianças menores, não eram levadas em consideração pelo fato de terem uma vida muito frágil devido os altos índices de mortalidade infantil. Ariès (1981, p. 100) complementa: "Assim que a criança superava esse período de alto nível de mortalidade, em que sua sobrevivência era improvável, ela se confundia com os adultos", e então passava a desempenhar as atividades que já se esperavam dela.
Na Idade Moderna, com o advento do Iluminismo, percebe-se uma mudança na concepção da criança, especialmente nas classes mais elevadas: a criança passa a receber maior atenção e cuidados específicos e direcionados para suas necessidades que começam a ser percebidas como diferentes das necessidades dos adultos. Os registros históricos apontam que a criação das primeiras instituições para crianças datam do século XIX, e Friedrich Froebel que viveu no período de 1782 a 1852 foi o fundador dos primeiros modelos de jardim de infância, utilizando jogos e brincadeiras no aprendizado infantil.
Ao se criar um elo entre as representações infantis e o conhecimento concreto; segundo os estudos de Ferrari (2008), Froebel defendia ainda que quanto mais ativa é a mente da criança, mais ela é receptiva a novos conhecimentos, assim considerando os sentidos da criança, o contato que ela cria com o mundo e respeitando os estágios de capacidade de aprendizado e suas características específicas é que deve ser o ponto de partida para o ensino.
A princípio, a educação infantil desempenhou um papel mais de assistencialismo, como afirma Heidrich (2010, p. 01), dizendo que no Brasil esse período "perdurou por quase um século e só perdeu força quando a Constituição de 1988 tornou o segmento um dever do Estado e fortaleceu seu caráter educativo", não só no Brasil, mas em todo o mundo a ideia de assistencialismo ganhava força, como salienta Kuhlmann Jr. (2000, p. 14):
A concepção da assistência científica, formulada no início do século XX, em consonância com as propostas das instituições de educação popular difundidas nos congressos e nas exposições internacionais, já previa que o atendimento da pobreza não deveria ser feito com grandes investimentos. A educação assistencialista promovia uma pedagogia da submissão, que pretendia preparar os pobres para aceitar a exploração social. O Estado não deveria gerir diretamente as instituições, repassando recursos para as entidades.
Assim, as primeiras escolas já surgiam com o objetivo de manter as classes subordinadas no patamar em que estavam recebendo apenas assistência básica para que os pais das crianças pobres pudessem continuar trabalhando para manter o alto nível econômico da classe dominante.
No século seguinte, devido a mudanças estruturais na sociedade ocasionadas pela Revolução Industrial, a mulher passou a compor o mercado de trabalho, e desta forma houve uma crescente necessidade de se aumentar o número de escolas já que as mães não mais poderiam cuidar de seus filhos em tempo integral, necessitando assim de um auxílio do governo para contar com escolas que cuidassem bem de seus filhos, dessa forma Kuhlmann Jr. (2000, p. 11) expõem que

As instituições de educação infantil tanto eram propostas como meio agregador da família para apaziguar os conflitos sociais, quanto eram vistas como meio de educação para uma sociedade igualitária, como instrumento para a libertação da mulher do jugo das obrigações domésticas, como superação dos limites da estrutura familiar. As ideias socialistas e feministas, nesse caso, redirecionavam a questão do atendimento à pobreza para se pensar a educação da criança em equipamentos coletivos, como uma forma de se garantir às mães o direito ao trabalho. A luta pela pré-escola pública, democrática e popular se confundia com a luta pela transformação política e social mais ampla.

domingo, 16 de junho de 2013

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL

O mundo todo desperta-se para a importância da educação infantil. Até pouco tempo atrás esse ensino era tido como de menor importância.
Hoje, sabemos que a estimulação precoce das crianças contribui e muito para o seu aprendizado futuro. Desenvolve suas capacidades motoras, afetivas e de relacionamento social. O contato das crianças com os educadores transforma-se em relações de aprendizado.
Uma outra concepção é o desenvolvimento da autonomia, considerando, no processo de aprendizagem, que a criança tem interesses e desejos próprios e que é um ser capaz de interferir no meio em que vive. Entender a função de brincar no processo educativo é conduzir a criança, ludicamente, para suas descobertas cognitivas, afetivas, de relação interpessoal, de inserção social. A brincadeira leva a criança ao conhecimento da língua oral, escrita, e da matemática.
Acompanhando a implantação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o Ministério da Educação (MEC), com o objetivo de assessorar as escolas, elaborou referenciais para um ensino de qualidade da educação básica, os chamados Parâmetros Curriculares Nacionais.
Os Parâmetros não têm caráter obrigatório e servem de orientação às escolas públicas e particulares. Os Parâmetros, assessorando a competência profissional, contribuem para a elaboração de currículos de melhor nível, mais ajustados à realidade do ensino.
Os “Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Infantil” propõem critérios curriculares para o aprendizado em creche e pré-escola. Buscam a uniformização da qualidade desse atendimento. Os Parâmetros indicam as capacidades a serem desenvolvidas pelas crianças: de ordem física, cognitiva, ética, estética, afetiva, de relação interpessoal, de inserção social e fornecem os campos de ação. Nesses campos são especificados o conhecimento de si e do outro, o brincar, o movimento, a língua oral e escrita, a matemática, as artes visuais, a música e o conhecimento do mundo, ressaltando a construção da cidadania.
O então ministro da Educação, Paulo Renato Souza, ao se referir aos Parâmetros Curriculares do Ensino Fundamental, ponderou: “Passamos a oferecer a perspectiva de que as creches passem a ter um conteúdo educacional e deixem de ser meros depósitos de crianças. Em todo o mundo está havendo a preocupação de desenvolver a criança desde o seu nascimento”.
Dados de 1998, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 25% da população de zero a 6 anos freqüentam creche ou pré-escola. São 5,5 milhões de crianças de um total de 21,3 milhões.
A educação infantil é definida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) como parte da educação básica, mas não da educação obrigatória. A lei define, também, nas disposições transitórias, a passagem das creches para o sistema educacional. O Ministério da Educação (MEC) determinou que, a partir de janeiro de 1999, todas as creches do País deveriam estar credenciadas nos sistemas educacionais.
Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, cabe aos sistemas municipais a responsabilidade maior por esses atendimento. A Constituição da República diz que “A educação é direito de todos e dever do Estado”. A emenda constitucional n.º 14/96 alterou dispositivos relativos à educação e estabeleceu que a educação infantil é atribuição prioritária dos municípios.
A educação infantil tem-se revelado primordial para uma aprendizagem efetiva. Ela socializa, desenvolve habilidades, melhora o desempenho escolar futuro, propiciando à criança resultados superiores ao chegar ao ensino fundamental.
A educação infantil é o verdadeiro alicerce da aprendizagem,  aquela  que deixa a criança pronta para aprender.

TDAH Entrevista com Betânia Dell Agli - Revista Nova Escola

A criança com TDAH pode aprender. É preciso saber como ajudá-la.

Betânia Dell Agi: Psicóloga, doutora em Educação, explica como escola e família podem atuar para garantir o direito à Educação de alunos com distúrbios de aprendizagem ou comportamento.


Estudo divulgado recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) evidencia que, em três anos, o consumo de metilfanidato, princípio ativo de remédios como Ritalina, Concerta e Ritalina LA, teve um aumento de 73,5% entre crianças e jovens de 6 a 16 anos. Os números chamam a atenção para um aumento excessivo nos diagnósticos de Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (TDAH) e na prática de tratar questões comportamentais exclusivamente com remédios.

O tema foi discutido na edição de junho/julho da NOVA ESCOLA, que está nas bancas, e é tratado há seis anos pelo Centro Criança Casulo, coordenado pela psicóloga e doutora em Educação Betânia Alves Veiga Dell’ Agli, em São João da Boa Vista, a 215 quilômetros de São Paulo. Nesta entrevista, ela fala sobre os problemas no diagnóstico de  TDAH e sobre o papel da escola, dos pais e do professor no desenvolvimento da criança que realmente possui distúrbios.
Os dados da Anvisa chamam a atenção para um exagero nos diagnósticos de TDAH. A que se deve esse aumento?
BETÂNIA ALVES VEIGA DELL’ AGLI O debate sobre a medicalização tem sido conduzido de forma restrita e preconceituosa, o que não ajuda no desenvolvimento da criança. É importante entender quem faz os diagnósticos de TDAH. Vejo muitas pessoas que são avaliadas em apenas uma consulta médica ou, quando muito, são analisadas por meio de escalas que abordam os sintomas do transtorno. O diagnóstico não deve ser pautado em condutas parciais, considerando apenas a questão biológica. Ele deve ser realizado por uma equipe interdisciplinar capacitada e precisa incluir informações passadas pelo professor e pela família e uma análise do contexto no qual a criança está inserida. Além dos problemas apontados, há dois aspectos que devem ser considerados ao analisar o aumento no diagnóstico de TDAH: o maior esclarecimento sobre o transtorno e o acesso obrigatório à escola. Antes, as crianças com problemas de comportamento e baixo desempenho evadiam. Hoje, é preciso lidar com a questão de outra forma.

Se o professor é o primeiro a perceber que o estudante apresenta uma condição de aprendizagem diferente dos demais, o que ele deve fazer?
BETÂNIA Acredito que o educador deva começar fazendo tentativas pedagógicas e utilizando diferentes recursos para ajudar o aluno. Caso perceba que as dificuldades permanecem, aí é hora de encaminhá-lo para uma avaliação neuropsicológica. Essa análise pode evidenciar melhor as dificuldades e também as habilidades da criança, possibilitando direcionar as intervenções. Sabemos, no entanto, o quanto esse diagnóstico completo é difícil no país. Atualmente, não contamos com muitos profissionais que desenvolvam esse trabalho, ainda mais no setor público.

E o uso de medicação?
BETÂNIA O remédio tem de ser encarado como um dos aspectos do tratamento do TDAH, não como a solução geral. Para que ele seja ministrado, é preciso que uma equipe de profissionais competentes no assunto conclua, ao considerar diversas informações, que a medida trará benefícios ao desenvolvimento integral da criança. De maneira alguma o medicamento exclui condutas interventivas no âmbito educacional. 

Sabemos que há muitos diagnósticos equivocados, mas como trabalhar com alunos que, de fato, têm o problema?
BETÂNIA 
O primeiro ponto importante é o professor conhecer o transtorno. Em seguida, é preciso pensar sobre as características desse aluno específico que tem TDAH: como ele reage às frustrações, como lida com as tarefas escolares, qual o momento de maior agitação, como cuida de seus materiais etc. É importante que o docente entenda que os comportamentos apresentados pela criança não são propositais ou "por querer". Ela não consegue agir de outra forma, e cabe à escola planejar como auxiliá-la. Pensar o melhor local da sala de aula para o aluno se sentar - considerando que se distrai com qualquer estímulo irrelevante -, monitorar as tarefas, tocar nele com o objetivo de chamar a sua atenção para aspectos importantes em momentos específicos e diminuir os estímulos quando possível são algumas ações importantes. Tudo deve ser feito com o conhecimento da criança.

Como deve ser o diálogo com o aluno?
BETÂNIA
 É fundamental que a comunicação seja adequada. O uso de uma linguagem descritiva é de suma importância, principalmente quando o aluno apresenta comportamento opositor desafiante, comum no quadro de TDAH. Além disso, o professor deve reservar momentos para sentar com a criança, fazer uma avaliação do comportamento dela durante a semana e estabelecer metas para a próxima. O elogio descritivo também é fundamental porque mostra ao aluno as conquistas dele, além de propiciar o engajamento. 

Qual deve ser a postura da coordenação e da direção da escola quando recebem um aluno diagnosticado com TDAH?
BETÂNIA
 A escola como um todo deve propiciar o estudo e a reflexão sobre o tema. Cabe aos gestores pensar junto com o professor as melhores intervenções, estabelecer metas e, ao longo do processo, fazer avaliações das ações e pensar em alternativas para o que não deu certo. Acredito que passar segurança ao docente, caminhar junto com ele, é fundamental. A grande maioria dos professores quer fazer o melhor para a criança, mas muitas vezes não sabe como.

Como estabelecer uma parceria entre pais e professores com o intuito de beneficiar esse aluno com TDAH?
BETÂNIA
 A participação da família também é indispensável, pois as mesmas condutas adotadas na escola devem ser colocadas em prática em casa: o estabelecimento de horário para estudo, o monitoramento da organização do material escolar, a escolha do melhor momento para a criança fazer as tarefas. É necessário criar uma parceria que, de fato, funcione, deixando de lado as acusações de que os pais não educam bem, não colocam limites etc. No meu entender, isso significa cada um fazer o que lhe compete, tendo como objetivo comum o desenvolvimento do aluno. 

Muitos professores decidem dar uma carga menor de tarefas a alunos com transtornos de comportamento. Essa é uma boa estratégia?
BETÂNIA
 Diminuir as tarefas pouco vai ajudar o estudante. As atividades precisam ser pensadas de acordo com as habilidades e dificuldades que cada um apresenta. A criança com TDAH, como as demais, pode aprender. A questão é o que o professor fará para ajudá-la. Pode ser preciso organizar as atividades de forma diferente. Um exemplo: pensemos numa atividade de Matemática com 10 questões. Talvez, para a criança com TDAH, seja necessário dividir a tarefa em pequenos blocos, em que ela possa fazer quatro exercícios e descansar, depois três e, após algum tempo, o restante. Essas pequenas metas dão à criança a sensação de que ela vai dar conta da atividade. Se tiver de pensar em realizar todas as questões de uma vez só, poderá desistir, pois tem dificuldade com o esforço mental continuado. Isso não é dar menos, mas compreender o aluno. 

E o que fazer ao perceber que a criança apresenta alguma defasagem em relação à turma?
BETÂNIA
 Algumas crianças com TDAH têm dificuldades de aprendizagem e estão aquém dos colegas de turma. Nessa situação, o respeito não é ensinar menos, mas pensar em atividades compatíveis com o nível do aluno. Em alguns conteúdos, será preciso fazer adaptações, partindo do ponto em que a criança está em termos de aquisição do conhecimento. Será difícil o estudante compreender um texto se ele está no início do processo de alfabetização, mesmo cursando o 4º ano do Ensino Fundamental, por exemplo.